Futebol no DNA, sucessão a D'Ale e carinho da torcida: Sarrafiore destrincha evolução no Inter
- entrelinhascolorad
- May 3, 2019
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Sarrafiore domina na intermediária, gira o corpo e dá passos confiantes para vencer a marcação e rumar em direção à área. Mas ele nem chega a tanto. O chute potente de pé esquerdo parte de metros antes da risca da grande área e vira gol da vitória para o Inter sobre o Flamengo, no Beira-Rio, como já ocorreu tantas outras vezes na infância do meia em Buenos Aires.
E graças aos sábios conselhos do avô Antônio Pérsico. Já falecido, o ex-atacante do Boca Juniors nos anos 50 costumava levar o neto, Martín, desde cedo a um parque para jogar futebol. Ali, o garoto de quatro anos enfrentava meninos mais velhos e ouvia atentamente as dicas do "abuelo".
Uma das características herdadas do vô Antônio foi o chute de longa distância, fundamento que já enche os colorados de esperança – e de euforia. Ainda quando criança, precisou realizar cirurgia para retirar um tumor benigno da perna direita. A única marca é a cicatriz na altura do joelho da perna direita.
Com o sangue boleiro correndo nas veias, Sarrafiore ainda ensaia as primeiras finalizações da carreira. Mas a amostra inicial é promissora, a ponto de corresponder o carinho imediato da torcida. O meia tem quatro gols em 13 jogos e divide a vice-artilharia do Inter no ano com Guerrero. De gol em gol, o gringo assume protagonismo para cavar, aos poucos, espaço no time titular.
Um dia após brilhar contra o Flamengo, Sarrafiore recebeu a reportagem do GloboEsporte.com para uma entrevista no CT do Parque Gigante. A "resenha" ainda se desenrola em bom espanhol. Mas o gringo deixa transparecer o quão à vontade se sente no Inter e em Porto Alegre.
O meia distribuiu sorrisos em 20 minutos de conversa e passou a limpo os primeiros meses de Beira-Rio e como atleta profissional. Sarrafiore não se furtou das respostas. Falou sobre a responsabilidade de "suceder" D'Alessandro, o período afastado pelo Huracán, o carinho da torcida e as expectativas para o presente e futuro no Inter.

Confira a entrevista
Primeiro gol no Brasileirão
"Flamengo é uma grande equipe, a nível mundial. Para mim, é muito importante converter um gol contra uma equipe desse tamanho. Estou contente pelo que vivi e por ter conseguido os três pontos. É difícil quando você entra no jogo com o ritmo que eu tinha. Como havia errado na primeira oportunidade, fiquei um pouco mal. Mas pude tomar a "revanche". Sabia que ia ter outra chance e pude aproveitar. Não pode desfocar da partida, porque senão as coisas não saem.
Esperava começar tão bem o ano?
"Não esperava. Me custou a adaptação. Os primeiros seis meses foram complicados. Não estava em ritmo de jogo. Aqui, os jogadores estavam no meio da competição, estavam bem. Mas por sorte pude me acostumar rápido. A pré-temporada ajudou muito e pude focar no que precisava a equipe.
"Batida de fora da área"
Sempre gostei de chutar de fora da área, de fazer gols. Me sinto mais cômodo fora da área do que dentro. Ontem (quarta-feira) ficou evidente na jogada que eu duvidei um pouco. Sei que há momentos em que posso fazer isso. E quando puder, vou fazer."
Adaptação ao elenco profissional
"Não é fácil. Quando cheguei aqui, não podia crer nos jogadores que estavam aqui. São jogadores top a nível mundial. Não podia acreditar. Mas fui me adaptando. Eles me ajudaram muito."
Pronto para ser titular?
"Sim (estou pronto). Sempre. Treinar o dia a dia e quando o treinador precisar de mim, estou pronto. Tranquilo. Trabalho para jogar, a verdade é essa. Tem muitos jogadores que estão em nível muito alto. É uma equipe que tem muitos jogadores."

Sucessor de D'Alessandro?
"Sempre disse que venho fazer meu papel. D'Ale é incrível. É o maior ídolo do clube. Vai ser muito difícil igualar ele. Qualquer jogador que quiser se comparar com ele não vai ter chance. Vou fazer meu trabalho e fico feliz de fazer um quarto do que fez o D'Ale."
Podem jogar juntos?
"Fico à disposição do treinador. Não se pode sentir incomodado de jogar ao lado de jogadores assim. Óbvio que se pode."Fica mais fácil jogar com caras como Guerrero e Nico por perto?"Óbvio. Sempre ter jogadores dessa classe fica mais fácil para um garoto como eu, que está recém começando."
Posição em campo: centralizado ou aberto?
"Estou acostumando a jogar aberto. Posição linda que nunca tinha feito. À medida que vá treinando e aceitando tudo o que precisa a posição, vou melhorando."
Papel de Odair
"Desde o dia que cheguei, (Odair) me aconselha e me marcou muito. É um técnico que me fez debutar profissionalmente. Sempre está para aconselhar, igual a toda comissão técnica. Estão sempre à disposição."
Esperava tanto carinho da torcida?
"Na verdade, não esperava. Como estava na Argentina, sentia o carinho da torcida pelas redes sociais. Me ajudaram muito no período sem jogar. Me surpreendeu quando me buscaram no aeroporto, depois a primeira partida. Foi tudo muito grande. Estou muito agradecido."

Já está 100% fisicamente?
"Sempre se pode estar melhor, mas falando com Papito (Odair) e com a comissão técnica, nunca pensei que podia me sentir tão bem. Estou fisicamente muito melhor do que quando vim e quando estava na Argentina. Me ajudavam muito. Muitas vezes quando estávamos treinando, me colocavam no meio-campo para sentir o ritmo do que é correr para muitos lados, muitos sentidos. Tudo isso me ajudou. Me sinto muito bem."
Jogo contra o River: a primeira vez na Argentina
"Tem que ver se vou para a viagem. Depois, seria lindo jogar lá, é minha terra. Tenho muitos amigos que querem me ver. Fico feliz. Como vim para cá, muitos não sabem o estilo de jogo que tenho. Nesse sentido, me conhecem mais aqui no Brasil do que na Argentina. É uma oportunidade linda."
O que falta para virar ídolo no Inter?
"Falta muito. Recém é o começo. E tem que acontecer muitas coisas para eu virar ídolo. O mais lindo que pode passar a um jogador é ganhar título. Espero que isso aconteça."
Período sem atuar no Huracán"
Sabia que tinha que ficar bem, porque nos seis meses não fiz muito. Estive sem treinar. Treinava à parte, mas não é o mesmo. Na academia, não tem contato com a bola. Não faz um jogo, não faz nada. Sabia que ia custar, demorar. Mas estava mentalizado que ia voltar bem. Ia demorar seis meses, sete meses, mas ia ficar bem. Não passei bem, mas está no passado."
Vida em Porto Alegre
"Já estou aqui faz um tempo, estou acomodado. Já vieram meus familiares me ver, amigos. Estou feliz, perto da Argentina. Quando tem uma folga, vou, porque meus pais nem sempre podem vir. Eu estou todo o dia jogando o PlayStation (videogame) com meus amigos. Vou à casa do Víctor (Cuesta) jantar. É só churrasco (risos). Eu não faço. Vou e lavo os pratos (risos). Quem faz é ele."
E vai bem no PlayStation?
"Esses dias, perdi para Paolo (Guerrero) e fiquei bravo. Com Víctor, que não joga nunca, perdi também. Eu achava que ia bem, mas agora não sei."
Avô boleiro
"Ele que me levou ao futebol. Comecei a jogar em uma praça perto de onde ele vivia. Graças a ele, estou me dedicando a isso. Tinha quatro anos e me botava a jogar com crianças de 10, 11 anos. Eu pequeno, e ia lá com os meninos maiores. Ele era muito bom atacante. No México, foi artilheiro. Ele sempre tratava de dizer o que tinha que fazer quando estava perto da área."
Testes no Manchester City
"Foi uma experiência muito linda. Aprendi muito nos três meses que fiquei lá, mas não tive a oportunidade de ficar, então voltei."
Foto no Instagram com Riquelme. É referência?
"Sim. Sempre gostei de jogadores com esse estilo. Aimar, mesmo D'Ale. Se diz que o meia-atacante, o "enganche" como se diz na Argentina, está desaparecendo. Eu trato de aproveitar. Aproveitei tudo o que pude. Mesmo o Zidane, jogadores que são muito grandes mundialmente."
Fonte Globoesporte.com
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