Inter x Hermanos: relembre alguns capítulos do embate entre 'gauchos'
- entrelinhascolorad
- May 7, 2019
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Como esquecer da batalha de Quilmes, do título da Recopa em cima do temido Independiente, ou da explosão do Gigante após o gol de Nilmar na decisão da Sul-Americana de 2008? Não foram poucos os momentos em que argentinos cruzaram a história do Inter, perpetuando felizes memórias no imaginário colorado. Contudo, as primeiras alegrias conquistadas sobre os hermanos são muito anteriores às grandes taças internacionais levantadas pelo Clube do Povo no século XXI. Certos feitos, inclusive, foram alcançados antes do nascimento do quase cinquentenário Beira-Rio. Relembre agora alguns dos principais encontros entre o Colorado gaúcho e o país do tango.
A primeira vitória
Passadas três partidas em que o melhor resultado alcançado fora um empate, o Inter conquistou seu primeiro triunfo contra argentinos em 1948. O adversário foi o Estudiantes, que contava com a vitoriosa geração de Manuel Pelegrina, maior goleador da história do clube, Beto Infante, tido pelos hermanos como inventor do gol de letra, o goleiro Gabriel Ogando, entre outros.
Para infelicidade dos hermanos, o Inter também contava com uma das maiores formações de sua história, o Rolo Compressor, campeão de sete dos últimos oito campeonatos gaúcho disputados. Carlitos, Tesourinha e Nena, por exemplo, seguiam atuando pela equipe gaúcha na época do embate, que aconteceu no dia 7 de março, no estádio da Timbaúva, casa do Força e Luz. O placar final, 3 a 1 para o Colorado, foi construído a partir dos gols de Tesourinha, Carlitos e Adãozinho. Para o Estudiantes, Infante marcou.

A goleadora década de 50Se por um lado os anos 50 marcaram o final do Rolo Compressor, a chegada da nova década igualmente significou a consolidação de outro esquadrão colorado: o Rolinho. Comando por Teté, o time recebeu nomes como Salvador, Oreco, Florindo e Bodinho, e conquistou os quatro estaduais disputados até 1954.
Neste contexto, o Estudiantes de La Plata voltou à capital dos gaúchos para enfrentar o Inter, no dia 25 de janeiro de 1952. Desta vez, a partida foi disputada no Estádio dos Eucaliptos, e teve como resultado uma impactante goleada brasileira: 4 a 1. Os gols foram marcados por Canhotinho, Solis e Luizinho, duas vezes, enquanto o tento de honra dos hermanos foi anotado por Barreros.
O amistoso disputado no início da década foi sucedido por outro, realizado em 1959. Em meio às comemorações pelo cinquentenário colorado , o Clube do Povo recebeu, na véspera de seu aniversário, o Estudiantes. Novamente, a partida foi disputada nos Eucaliptos, e contou com a seguinte escalação por parte do Inter: Maninho; Barradas e Dilson; Zangão, Verardi e Bruno; Cacaio, Zago, Joaquim, Osquinha e Deraldo.

Após um espetacular início de jogo, o Inter abriu o placar aos cinco minutos, em belo gol de Osquinha. Mesmo com a vantagem no marcador, a equipe gaúcha não diminuiu o ritmo, e logo ampliou com Deraldo, em lance que contou com falha do goleiro. Ainda antes do intervalo, Osquinha, de cabeça, marcou mais um.
A derrota por 3 a 0 pareceu estressar os visitantes, que tiveram dois jogadores expulsos logo no começo da etapa final. Do lado gaúcho, Osquinha recebeu o vermelho. Dando números finais à partida, Joaquim fez o quarto, convertendo penalidade cometida pelo zagueiro Alarcon, que pouco antes havia marcado, também da marca da cal, o solitário gol argentino.
Novo estádio, velho roteiro
Pouco mais de três meses depois de inaugurar o Beira-Rio, o Inter recebeu o Estudiantes para partida amistosa, no dia 13 de julho de 1969. Fato corriqueiro nos embates entre estes dois gigantes alvirrubros, o jogo colocou frente a frente duas escalações com muita história.
Do lado argentino, uma geração que acabara de conquistar a América e o Mundo, e que nos dois anos seguintes se sagraria tricampeã da Libertadores. Treinados por Osvaldo Zubeldía, ‘La Bruja’ Verón, Bilardo, Malbernat e Togneri formaram aquele que foi um dos maiores times já vistos na América do Sul. Em Porto Alegre, enfrentariam o elenco que voltaria a conquistar um campeonato estadual para o Inter após um hiato de sete anos, dando início à sequência do octa.
Na queda de braço entre os dois grupos recheados de ídolos, mais uma vez a melhor foi dos gaúchos. Verón até marcou seu gol, acompanhado de Rudzki na súmula de goleadores argentinos. Mas, enquanto os hermanos anotaram apenas dois, o Inter voltou a marcar quatro tentos. Gilson Porto, Bráulio, Tovar e Valdomiro garantiram a vitória para o Clube do Povo, a quarta sobre o adversário platense.
River no caminho do Tri
Diferente do que possa sugerir o invicto título brasileiro de 1979, a última temporada da década de 70 não foi absolutamente irretocável para os lados da Avenida Padre Cacique. Antes da disputa do campeonato nacional, o Inter teve uma campanha abaixo da média no certame estadual, símbolo de um começo de ano claudicante. Em fevereiro, por exemplo, o Clube do Povo foi convidado para disputar o amistoso Torneio Mar del Plata, na Argentina. No país vizinho, os números finais da excursão colorada foram bastante negativos: em seis partidas, apenas uma vitória. O mau desempenho, entretanto, não ofuscou a belíssima atuação no empate por 3 a 3 contra o River Plate.
Em 1978, a Argentina havia conquistado sua primeira Copa do Mundo. Ao lado de Mario Kempes, cabeludo goleador da caminhada hermana, Daniel Passarella, capitão da seleção, foi um dos grandes destaques no inédito título. O zagueiro também capitaneava o elenco do River Plate, que contava com outros campeões do mundo, como Ortiz, Luque e Fillol. Assim, como de costume em sua história, o Clube do Povo do Rio Grande do Sul voltaria e enfrentar um verdadeiro selecionado argentino.
Escaladas as equipes, o River foi a campo com Fillol; Comelles, Passarella, H.Rodríguez, Saporiti; J.J.López, Lonardi, Alonso; P.González, Luque e Ortiz. Do lado brasileiro, o time atuou com os seguintes onze iniciais: Gasperín, Hermes, Beliato, João Carlos, Tabajara; Tonho, Batista, Falcão; Valdomiro, Adilson e Luiz Fernando.
O Inter começou a partida em ritmo alucinante, atestado no sonoro placar de 3 a 0 ao final do primeiro tempo. À exceção do gol contra de Rodríguez, os tentos colorados foram anotados por dois atletas à altura de qualquer defensor campeão do mundo. Na ocasião, Falcão e Valdomiro balançaram as redes defendidas por Fillol, que evitou placar ainda mais elástico para os gaúchos ao defender pênalti de Valdomiro.
No segundo tempo, foi a equipe ‘millonaria’ quem conseguiu se impôr. Os dois gols de Passarella, além do tento de Alonso, devolveram a igualdade ao marcador, garantindo o 3 a 3 como placar final do grande duelo.
O quebrador de tabus
O pioneirismo colorado em Libertadores é conhecido em todo o Rio Grande do Sul. Primeira equipe do estado a disputar o mais badalado torneio continental, responsável pela primeira vitória gaúcha no certame, ambos os feitos alcançados em 1976, assim como por levar o Rio Grande a sua primeira semifinal, em 1977; coube ao Inter fincar a bandeira sul-riograndense em finais da Libertadores da América, no ano de 1980.
À época, as semifinais da Libertadores eram disputadas em formato de triangular, com a equipe melhor classificada avançando para a final, a ser disputada contra o líder do outro grupo. Para chegar à decisão, o Inter precisou superar América de Cali e Vélez Sarsfield. Enquanto os confrontos contra os colombianos terminaram empatados em 0 a 0, o colorado conseguiu duas importantes vitórias contra os argentinos, suficientes para garantir a classificação do Clube do Povo.
O primeiro jogo contra o Vélez foi disputado no dia 13 de junho, na Argentina. Os donos da casa jamais haviam perdido uma partida de Libertadores em seus domínios. Um retrospecto de respeito, capaz de assustar grandes equipes, mas não o Inter tricampeão nacional invicto. Assim, após quase 90 minutos de muito equilíbrio, o Colorado abriu o placar com Tonho. O artilheiro da noite, que entrara em campo substituindo Falcão, teve o gol aberto para marcar, completando grande jogada de Jair.

Passados pouco mais de dez dias, o Vélez veio a Porto Alegre para a partida de volta. O Colorado não teve boas maneiras ao receber os visitantes em sua casa, muito por conta da iluminada noite do atacante Adilson, que, com três gols, um deles uma pintura, eliminou os hermanos e praticamente selou a classificação do Inter. O tento de José Lanao, para o Vélez, encerrou o placar em 3 a 1.
Com a chegada do século XXI, o Inter seguiu desbravando territórios hostis do futebol sul-americano. Em 2005, por exemplo, o Colorado se tornou a primeira equipe estrangeira a vencer o Rosário Central, como mandante, em competições internacionais.
O Colorado encontrou os ‘Canallas’ nas oitavas-de-final da Copa Sul-Americana. A partida de ida foi disputada na Argentina, onde os mandantes mantinham o invejável tabu passados 34 anos e 40 confrontos. Respeitando a escrita do Rosário, o Inter foi a campo com postura mais defensiva, apostando nos contra-ataques. Para além da grande atuação vermelha, com destaque para as escapadas de Rafael Sobis, o primeiro tempo, encerrado sem gols, foi marcado por uma invasão de campo nada desagradável: um cachorro, que passou desapercebido pelo árbitro, sendo retirado pela polícia apenas depois de receber afagos no banco de reservas da equipe da casa.
Para a segunda etapa, o técnico Muricy Ramalho decidiu por adotar postura menos cautelosa. Como consequência, aos 24 minutos Gustavo recebeu cobrança de lateral na área, ganhou de dois zagueiros, e ajeitou para Sobis. O jovem atacante colorado emendou de primeira um chute forte, rasteiro, que morreu no canto direito da meta defendida por Ojeda. Um gol para a eternidade, de uma equipe que, recentemente tetracampeã gaúcha e na luta pelo título brasileiro, se preparava para ficar gravada na vida de todos os colorados e coloradas.

A partida de volta, disputada no dia 29 de setembro, teve o 1 a 1 como placar final. O principal destaque do confronto, porém, foi a violência dos atletas argentinos, que fizeram sua primeira vítima já no primeiro tempo, quando Índio precisou ser substituído com as costelas fraturadas após sofrer violenta joelhada. Na segunda etapa, a expulsão de Rivarola indignou os visitantes de tal forma, que deu início a uma confusão que durou mais de três minutos, e só chegou ao fim depois de um operador de câmera de televisão ser agredido.
Dentro de campo, o Inter abriu o placar aos oito minutos do segundo tempo, com Jorge Wagner cobrando pênalti, enquanto o irritado Rivarola empatou para o Rosário aos treze. Com um a mais em campo, o colorado soube segurar a pressão dos adversários e garantir a classificação para as quartas-de-final, muito comemorada pelas quase 30 mil pessoas que estiveram no Beira-Rio naquela noite.
O Mercosul
Diferentemente da Copa Mercosul realizada pela Conmebol, torneio cuja primeira edição ocorreu em 1998, e que já não é mais disputado; empresários organizaram, em 1996, uma competição chamada de Torneio Mercosul, campeonato que foi disputado por Inter, San Lorenzo e Universidad Católica .

Além das vitórias por 2 a 0 no Chile, e 4 a 1 no Beira-Rio, contra a Universidad, o Inter também teve aproveitamento de 100% contra os argentinos do San Lorenzo. A primeira partida, disputada no dia 21 de julho, foi vencida pelos gaúchos por 1 a 0, gol de Fabinho, marcado aos quatro minutos do primeiro tempo.
No jogo de volta, no Beira-Rio, o Inter encaminhou o título ao golear o clube do atual Papa por 3 a 0. Na ocasião, os gols foram marcados por Cleomir, duas vezes, e Leandro. Campeã, a equipe colorada tinha como time base a seguinte escalação: André; Edinho Olmedo, Márcio Tigrão, Gamarra e Vinícius; Fernando, Marcelo Rosa, Yan e Paulo Isidoro; Fabinho e Leandro. Cleomir, César Prates, Celso Vieira, Régis, Anderson, Arílson, Ferreira e Paulinho Diniz foram outros nomes utilizados pelo técnico Nelsinho Baptista.
Os feitos mais relevantes
Mais frescos na memória da Maior e Melhor Torcida do Rio Grande são os encontros que aconteceram entre o fim da década passada e o início desta que hoje vivemos. A começar pelo título da Sul-Americana, taça até então inédita para clubes brasileiros, que foi conquistada pelo Inter em campanha que contou com dois confrontos contra tradicionais equipes hermanas

Nas quartas-de-final, o adversário foi o Boca Juniors, campeão da Libertadores no ano anterior, comandado dentro de campo pelo maestro Riquelme. O colorado acumulava duas recentes eliminações para o Boca neste mesmo torneio, ocorridas em 2004 e 2005, e que pareceram remediar o Inter contra a catimba da Bombonera. Desta forma, calejado pelas ainda recentes conquistas da América e do mundo, o Clube do Povo soube se impor, não permitindo aos xeneizes sequer o direito de sonhar com a classificação.

Na partida de ida, no Beira-Rio, vitória por 2 a 0, com dois golaços de Alex. A vantagem empolgou a torcida colorada, que, repetindo o que fizera nos confrontos do início do século, invadiu Buenos Aires para apoiar o Inter. Depois de um primeiro tempo movimentado, mas sem gols, a segunda etapa começou em altíssima velocidade. Antes mesmo dos dois minutos, Magrão abriu o placar, completando cruzamento perfeito de Nilmar.
Os donos da casa se lançaram ao ataque e conseguiram o empate com Riquelme, convertendo pênalti inexistente que Lauro quase defendeu. Mesmo assim, a equipe gaúcha não se abateu, e seguiu jogando de igual para igual apesar da pressão que partia das arquibancadas do caldeirão hermano. O passar do tempo deixou os argentinos mais inquietos no ataque, resultando em uma pressão desorganizada que deixava espaços para o veloz ataque colorado. Foi aproveitando destas lacunas na defesa rival que, aos 27 minutos, após excelente tabela com D’alessandro, Alex, o nome do confronto, apareceu livre na frente do goleiro e bateu cruzado. 2 a 1, e o Clube do Povo repetia feito do Santos de Pelé ao eliminar o Boca Juniors dentro da Bombonera.
Na decisão da Sul-Americana, o adversário foi um velho conhecido, contra o qual o Inter possuía excelente retrospecto: o Estudiantes de La Plata. A partida de ida, disputada na Argentina, foi vencida pela equipe gaúcha, que atuou por mais de 60 minutos com um jogador a menos, fruto da expulsão de Guiñazú no primeiro tempo. O autor do único gol do jogo foi Alex, convertendo pênalti.
Pronto para conquistar mais um título internacional, contando com importante vantagem, o Inter recebeu o Estudiantes na noite de 3 de dezembro. É verdade que a derrota por 1 a 0 no tempo regulamentar assustou os mais otimistas, mas o gol salvador de Nilmar, já na segunda etapa da prorrogação, deu números finais à partida e garantiu o título para os gaúchos, conquistado de forma invicta e inquestionável.

Na campanha do bicampeonato da América, o Colorado também cruzou com argentinos. Primeiro, o Banfield, nas oitavas de final. Apesar da derrota por 3 a 1 no primeiro jogo, uma grande vitória por 2 a 0 diante de um Beira-Rio lotado, somada à vantagem do gol qualificado, garantiu ao Inter a classificação para a próxima fase.
Nas quartas-de-final, mais uma vez, o Estudiantes. Os platenses fizeram jogo duro no Beira-Rio, vendendo caro a derrota por 1 a 0, alcançada apenas aos 42 minutos da segunda etapa, com gol de Sorondo. A volta, em Quilmes, reservou ao Inter sua primeira derrota contra a equipe ‘pincha’. Curiosamente, dentre todos os confrontos entre os dois times, poucos foram tão comemorados pela torcida gaúcha quanto este, uma vez que, apesar do revés por 2 a 1, o colorado se classificou para as semifinais graças ao tento salvador de Giuliano, a dois minutos do fim do tempo regulamentar. Quatro anos depois, o Clube do Povo retornava ao seleto grupo dos quatro melhor da América do Sul.

O último encontro entre Inter e Argentinos, antes do jogo de ida frente ao River, aconteceu na Recopa Sul-Americana de 2011, decidida contra o Independiente. Derrotado por 2 a 1 na primeira partida, o Clube do Povo veio a Porto Alegre sabendo que não poderia errar. O espetacular clima pré-jogo, com direito a Ruas de Fogo da torcida, iluminando a Padre Cacique, pareceu contagiar o time gaúcho, que, graças a dois gols de Leandro Damião, desceu para o vestiário com o título em suas mãos. No entanto, o início da segunda etapa apresentou um adversário copeiro, que logo aos aos três minutos conseguiu descontar. Coube aos mandantes segurar o ímpeto argentino, que sentindo a equipe brasileira hesitante, passou a criar seguidas oportunidades.
Foi então que o Gigante fez a diferença, empurrando o colorado para cima. A recompensa veio com a marcação de pênalti em Jô, aos 36 minutos da etapa complementar. Kléber cobrou, deslocando o goleiro em batida tão precisa quanto seus famosos cruzamentos, garantindo assim que, pela segunda vez na história, a Recopa era do Inter.

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