Albirrubros: desde o passado, não são poucos os encontros entre Inter e uruguaios
- entrelinhascolorad
- Jun 21, 2019
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Nesta quinta-feira, Porto Alegre vireu uma sucursal de Montevidéu. O Uruguai entrou em campo na capital gaúcha, enfrentando o Japão em partida válida pela segunda rodada da fase de grupos da Copa América.
Atualmente, a torcida colorada tem o privilégio de acompanhar de perto as grandes exibições do charrua Nico López, desfilando assistências milimétricas, pinturas de dentro e fora da área e incontáveis dribles em todos os gramados do continente, especialmente no Beira-Rio. A realidade de Nico, destaque-se, não é uma exceção, como comprova Ruben Paz, ídolo do Inter na década de 80. Se voltarmos ainda mais no tempo, são igualmente presentes na história alvirrubra atletas nascidos no país vizinho. Muitos deles, embora afastados da memória dos mais jovens, não apenas vestiram vermelho, como também souberam brilhar com o manto albiceleste. Relembre agora alguns destes nomes que superaram a aduana e conseguiram se sobressair dos dois lados da fronteira:
Julio Gervasio Pérez Gutiérrez:

Julio Pérez completaria 93 anos na última quarta-feira (19/06). Nascido na capital uruguaia, estreou como profissional em 1945, vestindo a camisa do Racing de Montevidéu. No país charrua, vestiu também as camisas de River Plate e Nacional antes de desembarcar em Porto Alegre, na temporada de 1957.
Apesar da grandiosidade do Colorado, que à época se preparava para construir o Beira-Rio, maior estádio particular do Brasil, é possível afirmar que os meses nos quais vestiu a camisa vermelha - deixou o Inter em 1958 - foram os menos emocionantes de sua vida como jogador de futebol em solo brasileiro. Não por desmerecimento ao Clube do Povo, mas sim porque, sete anos antes de chegar a Porto Alegre, atuara em nosso país, vestindo a camisa de sua seleção, por ocasião da disputa da Copa do Mundo.
Dono de lançamentos apurados e visão de jogo invejável, Julio brilhou na campanha do bicampeonato mundial uruguaio. Sempre se multiplicando em campo, viveu dia de artilheiro na partida de estreia dos charruas na Copa, contra a Bolívia, marcando o sexto gol da goleada por 8 a 0 dos futuros campeões. Seu momento de maior protagonismo, contudo, ainda estava por vir.
Na decisão, contra o Brasil, Julio quase foi desfalque. Sofrendo com incontinência urinária, honrou a tradição charrua de não negar a luta, e foi a campo mesmo desfalcado. Na raça, contagiado pela vibração de seu capitão, o histórico Obdulio Varela, começou a partida entre os titulares. Após uma atuação segura no primeiro tempo, teve seu empenho recompensado na etapa final.
O Brasil abriu o placar logo na volta do intervalo, com Friaça. A vantagem, entretanto, não se refletiu em imposição dentro de campo. Pelo contrário, a canarinho arrefeceu o ritmo e deixou os uruguaios se imporem. Assim, vinte minutos após o marcador ser inaugurado, Schiaffino empatou.

A igualdade, que garantia o título para os donos da casa, não durou muito tempo. Faltando 11 minutos para o encerramento da partida, Julio recebeu de Ghiggia, esperou a chegada da marcação, e devolveu para o craque charrua. O passe, perfeito, serviu de assistência para o mais triste dos gols já sofrido pelo futebol canarinho. Dois a um no placar, e o então inédito título mundial do Brasil escapava diante de 200 mil chorosos torcedores.
A importância de Julio Pérez na campanha que levou o Uruguai a conquistar sua segunda Copa do Mundo pode ser atestada em depoimento de Bigode, defensor brasileiro na competição. Em entrevista para o jornalista Geneton Moraes Neto, quando questionado sobre entrada mais dura que deu em Júlio, o ídolo de Fluminense e Flamengo justificou: “a máquina do Uruguai era Julio Perez, não Obdúlio Varela. Dei uma entrada violenta. Se pegasse no tornozelo, se Júlio Perez saísse de campo, a gente ganharia o jogo fácil. Porque o Uruguai se desarticularia totalmente.”
Enzo Francescoli, um dos maiores jogadores da história uruguaia, também tem em Júlio um símbolo da geração bicampeã mundial. O craque charrua revelou, em entrevista para a revista argentina ‘El Gráfico’, que, na sua visão, Julio era, ao lado de Ghiggia e Schiaffino, o grande referencial técnico daquela seleção. O escore da final, verdade seja dita, corrobora com a opinião de ‘El Príncipe’.
Júlio Pérez ainda foi convocado para a Copa do Mundo de 1954, mas não chegou a entrar em campo no torneio. Nas semifinais do certame, em partida contra a Hungria de Puskás, a seleção uruguaia sofreu seu primeiro revés na história dos mundiais, sendo superada pelo placar de 4 a 2, já na prorrogação. No ano seguinte, o futuro meio-campista colorado ainda jogaria a Copa América, última competição que disputou pelo Uruguai. Em 1956, fez sua aparição final com a camisa albiceleste, encerrando uma linda e, principalmente, vitoriosa trajetória.
Jose Eusebio Urruzmendi Aycaguer:

Urruzmendi nasceu no dia 25 de agosto de 1944. Ao longo de sua carreira, defendeu as equipes uruguaias do Nacional, Defensor, Fênix e La Luz, além do argentino Independiente e do venezuelano Estudiantes de Mérida. Pelo Inter, jogou ao longo de 1969, conquistando o Campeonato Gaúcho daquela temporada. Uma passagem curta, é verdade, mas intensa.
Para além das constantes agitações no início da temporada, justificáveis pelo clima de euforia relacionado à inauguração do Gigante, o atacante foi pivô de uma das maiores confusões já vistas no futebol riograndense. Após participar do jogo de estreia do Beira-Rio, substituindo Valdomiro na segunda etapa, Urruzmendi também atuou no primeiro Gre-Nal da história da casa colorada, disputado no dia 20 de abril de 1969.

Treinado por Sérgio Moacir Torres, arqueiro do inesquecível clássico de número um da história do estádio Olímpico, vencido pelo Inter pelo placar de 6 a 2, o time visitante veio a campo com postura extremamente defensiva, e, porque não, bruta, decidido a conter o ataque colorado na bola ou na força. Neste clima de tensão, aos 37 minutos da segunda etapa Urruzmendi tentou atrapalhar a reposição do goleiro Alberto. Valdir Espinosa o bloqueou com o corpo, derrubando o charrua e oferecendo a faísca definitiva para o barril de pólvora que se via dentro do gramado do Beira-Rio.
Passados alguns minutos de brigas e confusão, somente dois atletas não haviam recebido o cartão vermelho: Dorinho e Alberto, goleiro adversário. Ao árbitro da partida, Orion Satter de Mello, não restou alternativa senão apontar o fim do clássico, consagrando o placar de 0 a 0.

Dentro do cenário uruguaio, Urruzmendi sempre foi um atleta de destaque, a ponto de ser convocado para a Copa do Mundo de 1966, disputada na Inglaterra. No ano seguinte, foi titular absoluto na campanha campeã da Copa América, marcando três gols que o credenciaram ao posto de vice-artilheiro do torneio. O charrua ainda anotaria outros 5 tentos com a camisa albiceleste, eternizando-se como um dos principais atletas de seu país na década de 60.
Jorge Américo La Paz:

O Colorado gaúcho soube aproveitar a vitrine para os brasileiros que foi a Copa de 1950. Além de Julio Pérez, outro campeão mundial também desembarcou no Beira-Rio alguns anos depois de levantar a taça.Em 1954, o Inter contratou o terceiro goleiro da albiceleste na campanha do bi, Jorge Américo La Paz. O paredão ficou em Porto Alegre até 1959, conquistando, neste período, o Campeonato Gaúcho de 1955.
No futebol uruguaio, La Paz atuou por Nacional, Peñarol e Liverpool. Antes, aos 15 anos, estreou como goleiro vestindo a camisa do Miramar. Recebeu a oportunidade após se destacar em um treinamento realizado na semana anterior a sua primeira partida, que seria disputada contra a equipe carbonera. Curiosamente, até então Jorge não era jogador: estava apenas assistindo às atividades da arquibancada quando foi convidado para completar o grupo. Seu desempenho foi notório, garantindo-o a titularidade, fazendo com que nunca mais abandonasse o esporte.
La Paz chegou em Porto Alegre vindo do Peñarol. Inicialmente, atuou com as cores do Nacional, tradicional equipe da capital gaúcha ao longo da primeira metade do século XX. Foi contratado pelo Clube do Povo após indicação do eterno Teté, comandante do Rolinho, e por aqui conquistou o coração da torcida alvirrubra.
La Paz visitou o Beira-Rio em fevereiro de 2006. Aos 78 anos, o ex-goleiro fez questão de desejar sorte aos arqueiros colorados de então, Clemer, Marcelo e Renan. Como um amuleto, abençoou os paredões do Clube do Povo, que foram fundamentais nas grandes conquistas alcançadas naquela temporada.

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