Na torcida pelo bi: campeões da Copa do Brasil de 92 com o Inter contam bastidores do gol do título
- entrelinhascolorad
- Sep 17, 2019
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Foram cinco minutos de aflição entre o pênalti sofrido por Pinga e a cobrança de Célio Silva. Cinco minutos de indefinição sobre quem seria o responsável pela cobrança que tiraria o Inter da fila de 13 anos sem conquistas nacionais. Uma eternidade, que só ampliava a angústia dos colorados. Até a explosão da torcida nas arquibancadas com o gol que daria o título da Copa do Brasil de 1992, a primeira e única conquista colorada do torneio até hoje.
Vinte e sete anos se passaram, mas as lembranças daquela noite seguem bem vivas nas memórias da torcida colorada e dos protagonistas do título. E ainda servem de inspiração na busca pelo bicampeonato na noite desta quarta-feira contra o Athletico, no mesmo Beira-Rio. O Inter decide o torneio novamente em casa, após ter perdido o jogo de ida, obrigado a uma virada para levantar novamente a taça.
Em 1992, o Inter então comandado por Antônio Lopes decidiu o título contra o Fluminense. No jogo de ida, nas Laranjeiras, vitória dos cariocas por 2 a 1. No jogo de volta, no Beira-Rio, as duas equipes empatavam em 0 a 0 até os 38 minutos do segundo tempo, resultado que servia os cariocas. Foi quando Luciano cobrou falta da esquerda para Pinga dentro da área, em lance que decidiria o jogo e o campeão.
A vida veio e deu um pênalti que é contestado até hoje, mas ainda cabe recurso – brinca Célio Silva aos risos. – Para mim foi pênalti, o Pinga foi seguro. Naquela confusão que estava no campo, mesmo sendo do Inter, eu daria o pênalti. Na casa do adversário, mais de 90 mil pessoas, pênalti claro – completa o ex-zagueiro colorado.
Pênalti?
O discurso contundente do hoje técnico das categorias da base do Corinthians contrasta com o de quem sofreu o pênalti. Hoje funcionário do setor de relacionamento social do Inter, Pinga garante que sofreu o toque do jogador do Fluminense, mas reconhece que forçou a queda dentro da área. Em um lance que começou a ser arquitetado minutos antes, em um papo com o ponteiro Maurício.
O Daniel Franco, nosso lateral-esquerdo, sofreu a falta. O Luciano estava preparando. Eu, que estava ao lado do (goleiro Gato) Fernández, comecei a caminhar, falei ainda no meio-campo ao Maurício que iria para a área porque faria o gol. Eu entrei na área e me posicionei, entre a grande área e o pênalti. A bola veio em mim. No momento do domínio, ela fugiu do meu controle – recorda Pinga.
A premonição do zagueiro deu errado e ele não balançou as redes. Mas contou com a ajuda de Souza, então zagueiro do Fluminense, para entrar para a história como decisivo na final. Recebeu o contato do rival e caiu na área, em um lance até hoje discutido e motivo de indignação para tricolores. O árbitro José Aparecido de Oliveira, porém, não teve dúvidas.
Em um lance muito ingênuo, não recordo quem fez, existiu o choque. Eu teria que ajeitar a bola, o corpo para finalizar. Houve o choque e o juiz marcou o pênalti. Houve o choque, mas não o suficiente para me derrubar. Em qualquer outro lugar do gramado, nenhum jogador me derrubaria com tanta facilidade – completa o ex-zagueiro.

Quem bate?
Só que a cobrança foi permeada por tensão. De nada adiantava ter o pênalti a poucos minutos do fim do jogo e errar, pensaram os colorados. Enquanto o Fluminense reclamava, tentava reverter a marcação e catimbava, houve a indefinição do batedor. Gérson, o cobrador oficial, tinha sido substituído por Nando. Célio Silva pegou a bola, à espera de um companheiro tirá-la de suas mãos.
Nós tínhamos grandes batedores. Geralmente eu era sempre o último. Eu peguei a bola na confusão e todo mundo: "Vai com Deus, pensa na nossa família". Espera aí! Não sou eu quem vou bater! Aí chegava outro e dizia "vai com Deus, capricha" - lembra Célio.
Pinga lembra o temor que os companheiros por um eventual erro na decisão. Sem alguém que mostrasse o desejo de bater, Célio Silva ouviu as súplicas dos companheiros e assumiu a responsabilidade. A preocupação viraria pavor de todos no Beira-Rio.
A minha mulher, quando viu que eu peguei a bola, pegou minha filha e foi para o estacionamento. Dependendo do barulho, ela ficava ou já fugia do estádio – recorda o autor da cobrança.
O pênalti não foi visto por Pinga. Nervoso, esperava a reação da arquibancada. Ele deixou a área do Fluminense e voltou para o campo de defesa. Lá caminhava de um lado para o outro e rezava para que o companheiro fosse abençoado. Afinal, em um treino anterior a cobrança de Célio Silva assustou os presentes. O tempo parecia demorar ainda mais...
Eu não olhei. Quando o juiz confirmou o pênalti, o primeiro jogador que cheguei foi o Marquinhos. Pedi para ele pensar na família que estava na arquibancada para fazer o gol. Ele disse que não bateria. Eu fui em um por um, os jogadores que cobravam, mas todos diziam que não bateriam. O Célio estava com a bola na mão. Ele preparou-se para bater e veio a lembrança de um treinamento que fizemos. Ele bateu e a bola foi lá na arquibancada – revela.
A cobrança

Aos 43 minutos, enfim, a batida. Ela foi precedida de reclamações, catimba, buracos na marca do pênalti. Quando Célio Silva corria para a bola, Jéfferson saiu do gol e retardou uma vez mais a cobrança. O camisa 3 chutou forte, rasteiro, no meio do gol, enquanto o goleiro do Fluminense saltava para o lado direito. Os torcedores vibram. Célio Silva sai em disparada, pega o símbolo do Inter, beija e salta para abraçar, ser abraçado e sumir no meio dos companheiros.
Não tem preço. Todo o jogador merecia passar por isso. O futebol e a vida são feitos de momentos bons, então temos que aproveitar isso – afirma Célio.
Vinte e sete anos depois, o Inter pode fazer uma vez mais o Beira-Rio explodir de alegria. Nesta quarta-feira, o time de Odair Hellmann busca o bicampeonato da Copa do Brasil contra o Athletico. Como perdeu por 1 a 0 na Arena da Baixada por 1 a 0 há uma semana, precisa vencer por pelo menos dois gols de diferença. Caso ganhe por um de diferença, a decisão será nas cobranças de pênaltis.
Fonte Globoesporte.com
Foto: Tomás Hammes
Foto: Arquivo / Agência RBS
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